top of page
Buscar

O Bardo de Iñarritu

  • Michel Schettert
  • 28 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 29 de ago. de 2023

Falsa crônica de algumas verdades



Gosto de filmes sobre poder e Bardo é um show de coreografias sobre isso. Ele nos lembra como somos inocentes frente aos comandos dos Deuses. Uma abordagem sobre poder tão crua como faz o Bardo desperta qualquer pobre alma para o que deveria dar sentido à sua vida. Cada um que o diga, dentro dos seus limites. O alerta do artista genial não poderia ser outro a não ser este: crie incessantemente, pois nada faz sentido sem o poder da criação. É o princípio de tudo, é o objetivo do caos. Finalmente, se por acaso dizem que o último filme de Iñarritu é bastante autorreferencial, só posso entender que o diretor, além de ter clara sua autoimagem, se fascina por prazer e por desafios que o movam para a multiplicação de aplausos. Aplaudir, aplaudir... Vocês tem reparado como as pessoas atualmente resistem aplaudir? Pode ser um barbudo sujo tocando a mais bela melodia de sax no bar do Rico, mas a bossa não aplaude. Ao vivo acabou. A metamodernidade conclama o rechaço. Dificilmente vai abrir mão do seu precioso selfie para adorar a novidade sem estilo. O Brasil é o reino da Esperança ou da Desconfiança? O artista sem nome que se vire, que se desdobre, faça rir, ponha o nariz vermelho ou se pinte brilhante para que, depois de repetidas confirmações institucionais legitimadoras da sua expressão artística, gere algum retorno. Foi o tempo em que as Palmeiras de Cannes davam frutos. Cabem apenas duas razões para explicar essa escassez: 1) a primeira porque mataram os machos que davam flor porém não davam fruto - burra justificativa da santa ignorância que não sabia que a fêmea só poderia dar frutos se a flor do macho desabrochasse por perto. Solução rápida seria plantar; 2) a segunda hipótese se deve à poluição, de tudo, que reduziu ao mínimo os polinizadores que se moviam entre as palmeiras levando o grão-pólen da criação. Vide o risco de extinção da mamangaua. É um problema grave que se fosse adaptado ao mercado cinematográfico mundial se resumiria desta forma: há uma crise (das diretrizes) de investimento em empresas produtoras antigamente rentáveis e livres que, agora, ficaram reféns dos nomes/temas algoritmizáveis do cinema. Basta refletir qual destes filmes é mais fácil polinizar: o que fala simplesmente sobre a Barbie; ou o filme que fala de uma mulher que revisa suas experiências infanto-juvenis e resolve virar feminista? Os grandes orçamentos - e mesmo os orçamentos decentes - são especulativos em todos os níveis e a máquina apenas retroalimenta o mainstream através das redes sociais. É uma guerra do pague por tudo ou do não pague por nada - em troca da sua privacidade. Mas não é o fim. Pode ser o início de algo ainda desconhecido. O que é a recriação senão o fruto da ligação entre as inteligências? Na falta da inspiração natural das flores, as artes híbridas estão aí mostrando poder através de uma tal IA generativa que toma para si aquela tarefa que antes um bom músico improvisador tirava de letra.

 
 
 

Comments


bottom of page