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Triângulo da Tristeza

  • Michel Schettert
  • 1 de nov. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de nov. de 2023


A trama se divide em 3 partes e é inaugurada com o anúncio de um novo clima. Somos apresentados ao mundo da moda, em que as marcas baratas e caras se diferenciam pela forma com que seus modelos sorriem ou fazem carão, desprezando ou acalentando seus consumidores com sorrisos falsos. São modelos masculinos, entre eles Carl, que iniciam o filme apresentando um mix de problemas entre opção sexual ou dinheiro - momento este em que a protagonista (falecida em agosto de 2022, aos 32), Yaya, se agrega à utopia de Carl. Eles formam um casal bonito de jovens modelos. Ela ganha mais grana do que ele e mesmo assim nem pensa em pagar a conta. Não por faltar cartões de crédito, mas por se considerar um troféu cujo dono terá de cuidar e pagar todas suas despesas caso ela fique grávida. "Feminista de araque", sintetiza Carl. Esta primeira parte do filme é tão natural, desde a cena do jantar, da discussão no elevador, até o papo-reto na cama, que até daria um belo curta-metragem. Mas aí começa a parte dois, que se dá pelo desejo de Carl em fazer sua amada lhe amar também, tanto quanto ele. Para tentar não se sentir mais um objeto, Carl pensa em pedir a moça em casamento em um iate de luxo de 250mi de dólares. Vamos então para a segunda parte do filme, navegando com as câmeras que seguem o fluxo e apresentam outros personagens. Durante jantares e festas no cruzeiro, o casal de influenciadores conhece a elite degradada que enfrenta a solidão em lugares-comuns como este. Desde o início, essa degradação transparece não apenas através do comandante, um alcoólatra americano marxista, mas pelos outros personagens hilariantes: um vendedor de fertilizantes russo, um fabricante de bombas britânico, um programador novo rico e uma série de outras pessoas milionárias com problemas psicossomáticos graves. Tudo explana a decadência dessa elite apodrecida que acumulou dinheiro sem nenhum objetivo. Mal aparece a temática dos desejos individuais e logo uma catástrofe acontece: durante o clássico jantar com o comandante - o qual pede hambúrguer com fritas em contraste com a alta gastronomia dos passageiros - o navio passa a balançar demais devido a uma zona de baixa pressão em que o vento não dá trégua e faz com que todos fiquem mareados. Apesar do alerta da tripulação para que eles evitem o enjoo comendo mais, a própria comida não ajuda. Todos passam mal. É um momento de alta comédia do filme que culmina na explosão do navio, consequência de uma velha bomba do casal traficante de armas. Logo após o naufrágio, a terceira parte se inicia. Um grupo de sobreviventes chega até uma ilha, seguido pela camareira-chefe, que vem em outro barco trazendo mantimentos emergenciais - os quais nada duram. Uma sociedade alternativa se configura e a temática do poder aparece fortemente, pois só quem sabe pescar e fazer fogueira é a camareira, que passa a exigir o posto de nova comandante. "Eu te amo e você me dá peixe", aclara Carl. Ela exigirá que cada um se comporte como ela quer e daí resulta a última catástrofe do filme, ao final. Seria ultrajante falar qualquer coisa sobre isso, mas posso dizer que é um filme surpreendente, indicado a 3 Oscars, que soube bem articular instintos e crítica social. A obra tem grande beleza estética, mas vai além, com planos panorâmicos e oscilantes (devido à situação marítima) bem executados. Deveria ser visto e discutido por toda a juventude que sonha ou que não sabe com o que sonhar.

 
 
 

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