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Noites Alienígenas

  • Michel Schettert
  • 11 de jun. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de ago. de 2023

Filme aclamado em 2022 está muito aquém do potencial do cinema brasileiro.





Quando se percebe que o filme se passa em noturnas (quase) inteiramente – com fotografia de Pedro von Kruger (ABC) – o título do filme ganha notoriedade. Noites Alienígenas é um conjunto de noites que integra um lapso de tempo não maior do que um mês. Apesar disso, a abertura do filme é diurna e apresenta o melhor plano do filme. Chico Dias já aparece aí, rodado em plano-sequência. Ele vive um personagem solitário, velho traficante pequeno, que não aderiu aos movimentos criminosos conhecidos como facções. Ele tem apenas um assistente, que é o protagonista do roteiro: Riva, o Rivaldo. 17 anos e pouca noção da vida além da matéria – eis o papo da cena inicial. O mundo é apenas um mundo dentro de outro mundo. Dentro de cada mundo existe outro e mais outro... E no meio de baseados bem tragados as divagações se evaporam além da mirada. A mãe de Riva também gosta. A aparência dela lembra a Deborah Secco, no jeito e nos traços. Já a namorada de Riva parece ser mais ligada no movimento social. Ela participa frequentemente de uma roda de rap. Seu irmão tem problemas com o vício (o talentoso artista Adanilo) e sua mãe, perdida, tenta achar uma palavra ou um caminho na igreja. O que fazer com seu filho imerso na nóia? Serve-lhe a janta, mas nega-lhe o dinheiro para a droga. Ocorre que ela o leva a um ritual indígena de purificação, mesmo sendo evangélica. É bela a cena em que as xamãs tomam banho no rio – parece bem documental. Embora alguns fios da trama não se expliquem muito bem, as mensagens estão sempre bem subentendidas. O diretor Sérgio Carvalho, talvez por ter partido de uma auto-adaptação literária, explora pouco a costura e os diálogos entre os personagens, o que não contribui para maior empatia do espectador. A profundidade dos personagens caduca rápido demais. Parecem ter saído de uma caixa de pandora cuja joia já era espatifada. Essa superficialidade, por outro lado, faz lembrar o apuro no trabalho em Cidade de Deus. A cena da festa noturna em que Zé Pequeno acaba matando Bené com um tiro acidental é um momento de múltiplos pontos de contato entre os personagens. Vemos a teia por inteira. Sem falar na força da iluminação de Charlone, que parece incomparável aqui. Noites Alienígenas usa uma tecnologia de luz que resolve as cenas, mas não dá muita dignidade aos sentimentos que os bons atores expressam. O digital barato é mesmo cruel. Deprecia a capacidade de foco que os nossos olhos possuem e reforça o vazio existencial que escorre do filme. Talvez por isso caiam tão bem o momento da abdução e a sequência final, onde volta a claridade diurna.

 
 
 

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